Neste episódio Edu Matos conversa com Thatiana Gomes, Tech Lead em um dos maiores bancos da Holanda, sobre os desafios e benefícios de liderar equipes multiculturais. Tatiana compartilha suas experiências em como lidar com diferenças culturais, comunicação e a importância de construir conexões dentro do time. A conversa explora como a diversidade pode enriquecer o ambiente de trabalho e melhorar os resultados, além de discutir a adaptação necessária na liderança para atender às expectativas de diferentes culturas.
Liderar times multiculturais exige virar um camaleão: adaptar a comunicação para encontrar um meio-termo com cada pessoa.
Trabalhar com pessoas de diferentes culturas exige, acima de tudo, a capacidade de lidar com o desconhecido sem julgamento. As diferenças religiosas, sociais e culturais impactam diretamente a comunicação e a forma de trabalho. Um dos grandes desafios iniciais é compreender e respeitar essas diferenças sem assumir padrões pré-concebidos.
Outro ponto importante é a adaptação à ausência de hierarquia em ambientes de trabalho mais horizontais, como é comum na Holanda. Em culturas onde a autonomia é altamente valorizada, líderes precisam ajustar seu estilo para confiar mais no time e evitar interpretações erradas, como a sensação de falta de respeito ou ausência de direção.
Em times multiculturais, conflitos são inevitáveis, especialmente por diferenças na maneira de se comunicar. Culturas mais diretas tendem a ser objetivas e sem rodeios, enquanto culturas mais relacionais preferem uma comunicação indireta, priorizando a preservação da harmonia.
Essas diferenças podem gerar confusões e mal-entendidos. Por isso, é fundamental investir em atividades de integração e treinamentos de comunicação intercultural. Criar espaços seguros para que as pessoas compartilhem suas origens e formas de se expressar ajuda a diminuir julgamentos e aumenta a curiosidade e a empatia dentro do time.
Liderar em um ambiente multicultural exige flexibilidade e sensibilidade para adaptar a comunicação conforme o perfil de cada pessoa. Mais do que seguir um único padrão, é necessário ser um "camaleão", ajustando o nível de formalidade, a linguagem corporal e o estilo de feedback ao interlocutor.
Compreender a bagagem cultural e os valores pessoais ajudam a estabelecer uma comunicação mais eficaz e respeitosa.
Um ponto delicado na liderança multicultural é o equilíbrio entre oferecer autonomia e fornecer direcionamento. Em culturas como a europeia, a autonomia é a norma — muitas vezes, tentar dar instruções diretas pode ser visto como invasivo. Já em culturas mais hierárquicas, especialmente entre profissionais em início de carreira vindos da Ásia, espera-se mais orientação.
O segredo está em criar times autogerenciáveis, onde os membros mais experientes ajudam a guiar os mais novos, sem comprometer o espírito de independência que o Ágil e o ambiente multicultural valorizam.
A diversidade traz muitos benefícios além dos desafios. Perspectivas diferentes levam a soluções mais criativas e a um desenvolvimento pessoal e profissional muito maior para todos os envolvidos.
Além da diversidade de nacionalidades, incluir diferentes gerações nos times também agrega valor, trazendo olhares distintos sobre o uso da tecnologia, as relações interpessoais e o mercado de trabalho.
Trabalhar em times diversos é, acima de tudo, uma experiência humana enriquecedora — uma oportunidade de aprender novos jeitos de pensar, agir e se comunicar.
Uma das principais lições é substituir o julgamento pela curiosidade. Em vez de interpretar comportamentos culturais diferentes como erros ou problemas, é mais produtivo se perguntar: "Por que essa pessoa age assim?" Muitas diferenças, como a falta de sorriso em culturas do leste europeu ou a comunicação ultra-direta, fazem sentido quando vistas sob a lente da história e da cultura local.
Entender que cada pessoa é única — mesmo dentro dos estereótipos culturais — é fundamental para se conectar verdadeiramente com o time.
Embora estereótipos culturais possam ajudar inicialmente a nos prepararmos para interações, é importante não se prender a eles. Cada indivíduo é único, e nem sempre vai refletir o comportamento esperado da sua cultura de origem. Manter a mente aberta é essencial para construir relações autênticas e eficazes.
No contexto internacional, brasileiros são vistos como trabalhadores adaptáveis, abertos e altamente relacionais. Essa capacidade de se integrar e se conectar com diferentes grupos é um dos grandes diferenciais do brasileiro no exterior.
Por outro lado, é importante saber separar o pessoal do profissional em ambientes onde a objetividade é valorizada, além de ajustar a expectativa quanto ao equilíbrio entre vida pessoal e trabalho — algo muito mais rigoroso em países como a Holanda.
Para quem está começando a liderar times multiculturais, alguns conselhos fundamentais são:
Acima de tudo, lembre-se de que liderar é mais sobre ouvir e aprender do que sobre ensinar ou comandar.