As áreas de produto e tecnologia em muitas empresas ainda são totalmente independentes, o que pode causar diversos problemas. Neste episódio o Christiano Milfont, consultor na Accenture, conta como a abordagem ProdOps pode ajudar a enfrentar desafios complexos, equilibrando a entrega de valor ao negócio com a evolução das práticas tecnológicas.
Não existe decisão técnica. Toda decisão é, no fundo, uma decisão de negócio.
ProdOps surge como uma solução para um problema comum em empresas tradicionais: a dificuldade de transição de um modelo baseado em projetos para um modelo orientado a produtos. Muitas organizações possuem uma cultura bem estabelecida de entregar projetos e sustentação, mas enfrentam ruídos e atritos ao tentar implementar uma abordagem de produto digital. Isso pode até mesmo piorar os resultados antes de melhorar.
Diferente de transformações digitais agressivas, o ProdOps propõe evoluir a cultura da empresa de forma incremental, respeitando sua história, estrutura e organograma. Em vez de copiar modelos de empresas nativas digitais, o objetivo é construir a mentalidade de produto dentro da própria realidade da organização, garantindo uma transição mais fluida e eficiente.
Apesar de estar intrinsecamente ligada, tecnologia não é o foco central do ProdOps. Transformar uma empresa tradicional em uma empresa digital não significa apenas adotar tecnologias modernas como Kubernetes ou Kafka. O que realmente importa é mudar a mentalidade e estruturar a entrega de valor através de produtos. Isso envolve tratar a tecnologia como suporte ao negócio, conectando a execução tecnológica com os objetivos de negócio de forma alinhada.
O ProdOps também ajuda a estruturar times de produto que guiam o desenvolvimento das plataformas necessárias, em vez de deixar que plataformas sejam criadas de forma independente e desconectada das necessidades reais do negócio.
Um dos principais desafios é a dificuldade em mapear dependências e conectar equipes. Muitas vezes, times trabalham isolados, sem visão do todo, o que resulta em atrasos e falhas de comunicação.
Uma prática essencial sugerida pelo ProdOps é tratar produtos e fluxos de trabalho como se fossem ofertas de SaaS. Isso significa mapear dependências, identificar times virtuais (os grupos necessários para que uma funcionalidade ou fluxo funcione ponta a ponta) e criar documentações e acordos claros, como SLA (Service Level Agreement), que muitas vezes só existem para fornecedores externos e não internamente.
O ProdOps é fortemente influenciado pelo Kanban e pelos princípios do Site Reliability Engineering (SRE). Essas bases são combinadas com técnicas filtradas e adaptadas para atender às necessidades específicas das empresas tradicionais.
O Kanban ajuda na visualização do fluxo de trabalho, identificação de gargalos e na limitação do trabalho em progresso. Já o SRE fornece boas práticas de automação e gestão de sistemas digitais. No entanto, o diferencial do ProdOps está em sua aplicação pragmática, adaptada à realidade e maturidade da empresa.
O maior desafio está na visualização inicial. Antes de implementar soluções, é preciso mapear fluxos, identificar responsáveis, entender aplicações e seus impactos no negócio. Isso exige um trabalho colaborativo intenso, muitas vezes esbarrando na falta de autonomia ou clareza organizacional.
Outro ponto crítico é traduzir problemas técnicos para a linguagem do negócio. É essencial demonstrar como a melhoria de processos e ferramentas impacta diretamente o resultado final e o retorno financeiro.
Assim como DevOps, o ProdOps não é um projeto com fim definido, mas um processo contínuo de melhoria. A cada nova entrega, é necessário revisar e ajustar planos, garantindo que os objetivos sejam atingidos e que a confiabilidade do sistema seja mantida. Esse trabalho incremental permite avanços constantes sem sobrecarregar equipes ou gerar resistências.
Para iniciar, é recomendável:
ProdOps não é apenas um framework, mas um guia prático para equilibrar as demandas de produto, negócio e tecnologia. Implementá-lo requer disciplina, colaboração e uma mudança de mentalidade que privilegie o trabalho contínuo e o aprendizado incremental.
Se quiser saber mais sobre o assunto você pode assistir à palestra sobre Product Reliability Engineering que o Christiano Milfont deu no Staff+ Conference Brazil 2024 aqui na Escola Forja.