O que realmente define código legado
Código legado vai além de tecnologias antigas ou arquiteturas complexas. Sua essência está na falta de domínio pela equipe atual:
- Sistemas se tornam legados quando quem os mantém não os compreende profundamente, impedindo melhorias eficientes.
- Sintomas comuns incluem dificuldade para corrigir bugs, adicionar funcionalidades ou explicar o funcionamento interno.
- Tecnologias obsoletas ou más práticas são consequências, não causas primárias – o cerne é o desconhecimento.
Evitando a "legadização": Cultura > Documentação
Prevenir código legado exige estratégias de compartilhamento contínuo de conhecimento:
- Pair programming (15-20% do tempo): Engenheiros seniores e juniores resolvem problemas juntos, transferindo contexto decisivo.
- Code reviews eficazes: Mais que encontrar bugs, servem para disseminar padrões e racional por trás das escolhas.
- Documentação enxuta: Foque em "porquês" (ex.: "Usamos Postgres para X após comparar A/B") em vez de manuais extensos.
- Comentários inteligentes: Explique a intenção, não o óbvio (ex.: "Este índice otimiza consultas do painel Y").
Inovação vs. Modismo: Quando mudar de tecnologia
Adotar novidades por hype gera legado. A regra de ouro é:
- Resolva problemas concretos, não adicione complexidade desnecessária. Exemplo válido: Migrar para Rust se reduzir custos de ML em 70%.
- Faça protótipos descartáveis: Teste hipóteses em 2-3 dias antes de decisões. A premissa é "jogar fora após aprender".
- Evite soluções em busca de problemas: Reescrever tudo em Go porque "TypeScript é ruim" sem métricas claras é receita para fracasso.
Barreiras ao código de qualidade e como quebrá-las
Fatores que alimentam legado:
- Capacidade técnica limitada: Times medianos produzem código medianos – invista em treinamento e mentoria.
- Postura passiva: Profissionais devem defender boas práticas (ex.: testes) como médicos defendem protocolos, não como "ordens do chefe".
- Pressão por entrega: Negocie escopo, não qualidade. "Estamos atrasados" não justifica ignorar testes.
Reescrever ou não? Eis a questão!
Decisões de reescrita exigem rigor:
- Evite decisões precipitadas: Engenheiros recém-chegados tendem a sugerir reescritas por desconforto com o desconhecido.
- Estrangule progressivamente: Substitua módulos antigos por novos gradualmente, nunca tudo de uma vez (padrão strangler-fig).
- Valide com especialistas: Após 3-4 meses de imersão no código, um engenheiro sênior pode propor reescrita só se houver ganhos claros de custo/manutenção.
Sinais de alerta que seu sistema está virando legado
Identifique riscos cedo com:
- Métricas quantitativas: Aumento de regressões, tempo de implantação ou falhas.
- Pesquisas de satisfação: "Você se sente produtivo trabalhando nesse código?"
- Feedback de novos membros: Olhares frescos detectam complexidade desnecessária que veteranos normalizaram.
IA e LLMs: Aliados limitados
Ferramentas como Copilot ajudam, mas com ressalvas:
- Entendimento de contexto: Funcionam bem em códigos modulares e documentados, mas lutam em sistemas legados caóticos.
- Refatoração de larga escala: São ineficientes e propensas a erros em mudanças massivas (ex.: alterar 80 arquivos).
- Melhor uso: Automatizar tarefas repetitivas (ex.: atualizar 50 testes similares) ou gerar documentação básica.
Código legado não é inevitável
Sistemas tornam-se legados por falhas de gestão do conhecimento, não por fatalidade. Empresas que cultivam:
- Ownership compartilhado: Defina "donos primários/secundários" para cada módulo e atualize rotineiramente.
- Melhoria contínua: Código de 2 anos atrás será pior que o atual – e isso é normal. Refatore incrementalmente, não em "big bangs".
- Simplicidade como padrão: Só adicione complexidade onde há risco comprovado (desempenho, segurança).
A mentalidade anti-legado
Legado surge quando equipes perdem a conexão com seu código. Combata isso com:
- Transparência intelectual: Assuma quando não sabe algo e documente descobertas.
- Protagonismo técnico: Engenheiros devem advogar por boas práticas, não esperar permissão.
- Tolerância calculada: Problemas futuros podem ser resolvidos no futuro. Priorize o mínimo viável bem feito em vez do "perfeito incompleto".