Neste episódio, Edu Matos conversa com Filipe Ximenes, co-fundador da Vinta Software, sobre seu novo livro “Strategic Software Engineering”. Filipe compartilha sua visão sobre a importância da auto-gestão, proatividade, como a inteligência artificial está mudando o cenário do desenvolvimento de software, como superar bloqueios durante o desenvolvimento e muito mais.
Entregar com qualidade uma vez é fácil. O difícil é entregar com qualidade sempre.
Engenharia de software estratégica é sobre consistência. Não se trata apenas de escrever código de qualidade uma vez, mas de entregar valor com qualidade de forma constante. Vai além da programação e arquitetura: envolve habilidades que sustentam uma entrega previsível, consciente e sustentável.
Essa abordagem estratégica inclui o domínio de habilidades como auto-organização, visibilidade do trabalho, comunicação clara e pensamento crítico. Em um cenário onde IAs escrevem código com cada vez mais facilidade, são essas habilidades humanas e contextuais que fazem a diferença.
A desorganização muitas vezes nasce da falta de autogestão. Não saber o que precisa ser feito, não ter clareza das prioridades, ou não acompanhar a própria evolução são fatores comuns. A solução? Adotar práticas que aumentem a visibilidade do trabalho e criar rituais pessoais de acompanhamento.
Frameworks de produtividade podem ajudar como ponto de partida, mas o mais importante é experimentar e adaptar ao seu contexto. Praticar diferentes métodos é a chave para descobrir o que funciona para você.
Hoje, espera-se que engenheiros participem da descoberta dos requisitos junto com times de produto. Não basta mais receber tarefas. É preciso analisar criticamente, negociar prazos e propor alternativas mais simples ou eficientes.
Essa postura proativa passa por aprender a dizer “não” (com justificativa), reportar avanços e bloqueios com clareza, manter boa visibilidade e se comunicar com responsabilidade. Ser um bom engenheiro, nesse contexto, é também ser um bom “parceiro de negócio”.
Com a IA entregando código quase pronto, o aprendizado muda de foco: entender o “porquê” das coisas é mais importante do que nunca.
Livros e cursos ainda são ferramentas valiosas — especialmente para quem está em níveis mais iniciantes — porque oferecem um caminho estruturado. A IA pode ser usada como reforço, ajudando a interpretar trechos difíceis ou acelerando testes de hipóteses. O segredo está em saber fazer boas perguntas e refletir sobre as respostas. A IA ainda tem dificuldade de capturar contexto — essa parte continua com você.
Bloqueios são normais, e o erro mais comum é travar e não avisar ninguém. A comunicação é a principal arma para reduzir o impacto dos bloqueios. Informe rapidamente quando algo sair do planejado — mesmo que seja só para alinhar expectativas.
Outro ponto importante é não assumir que a solução de negócio está fechada. Conversar com pessoas de produto pode revelar caminhos muito mais simples para entregar valor com menos esforço técnico.
Não existe um fluxo “ideal”, mas algumas boas práticas permanecem fortes:
Refatorar é importante, mas também pode virar uma armadilha. Um bom caminho é usar limites de tempo: separe 30 minutos, avalie o progresso e só continue se fizer sentido. Isso evita se perder em refatorações infinitas que nunca chegam à produção.
E lembre-se: refatoração também é mudar o nome de uma variável para algo mais claro. Comece pelas pequenas dores do dia a dia. Compartilhar essas melhorias com o time também multiplica o valor da ação.
A chave é pensar em risco versus custo de mitigação. Se algo tem alta chance de dar errado e corrigir o problema depois é caro, talvez valha a pena investir mais desde o início. Se corrigir for barato, talvez seja melhor adiar a solução complexa até que o problema realmente apareça.
A arquitetura de software é, no fundo, uma forma de gestão de risco. Você vai ajustando a complexidade conforme o risco e os recursos disponíveis.
Ser um engenheiro melhor envolve mais do que escrever um bom código. Envolve refletir, se comunicar, tomar decisões melhores com base em contexto e trabalhar de forma consistente. O livro Strategic Software Engineering oferece ótimas provocações e ferramentas práticas para quem quer evoluir na carreira com os dois pés no chão.